José Augusto Mannis
Compositor
Senhoras, Senhores, Colegas,
Venho pelo presente, na qualidade de artista criador, declarar meu voto como de MEMBRO DA ANPPOM - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, para indicação dos assessores para CA de Artes, Ciência da Informação e Comunicação [sigla AC].
Acredito que todos conheçam minha opinião e minha posição nas questões relativas à situação do artista na universidade. E sabem de minha insistência para que a criação artística seja reconhecida como uma produção intelectual de par com a produção científica e tecnológica.
Muitos artistas brasileiros encontramse hoje dentro das universidades. A maior parte do ensino profissionalizante de música hoje é praticamente efetuado em escolas de nível superior (faculdades e universidades) sendo insuficiente o número de Conservatórios (ensino especializado 2o grau).
O fato é que os artistas estão na universidade e isso deveria contribuir para o enriquecimento mútuo de todas as áreas de conhecimento (ciências e tecnologia).
Infelizmente o produto puro da criação do artista ('simplesmente' A Arte) não é visto como um produto intelectual de par com os produtos dos demais pesquisadores em ciências e tecnologia. Isso marginaliza o artista criador dentro da comunidade acadêmica. O fato de que lhe é imposto apresentar sua produção unicamente através de meios e suportes próprios às outras áreas do conhecimento vai contra a idéia de que um acadêmico deve ser avaliado pela sua excelência.
Os criadores (intérpretes e compositores) que sabem fazer música, tem hoje duas possibilidades:
- ou devem ser polivalentes (musicólogos, etnomusicólogos, sociólogos, engenheiros, matemáticos, filósofos, etc.);
- ou então se fazer passar (e isso é uma camisa de força) por pessoas que fazem ciência sobre música para ter sua produção reconhecida, para ter uma bolsa, para ter um financiamento de uma agência de fomento. O artista não pode ser artista. Ele tem que ser artista e ainda mais alguma coisa.
E, não é impossível que aqueles que eventalmente sejam só essa 'alguma coisa a mais', possam por acaso acabar levando os benefícios na área de Artes no lugar dos artistas. (Isso é só uma hipótese.)
Se a produtividade de um músico só pode ser avaliada pelas suas publicações impressas (em textos: relatórios de pesquisa, papers, comunicações em congressos, artigos em periódicos, etc. ) um artista talentoso pode vir a ser avaliado com resultado inferior àquele que escreve bem e é um péssimo intérprete. Um compositor que tem ótimas idéias mas que é um péssimo compositor será muito bem avaliado pelos seus textos (críticas publicadas, livros, papers em congressos, artigos
>em periódicos,etc.) enquanto que um compositor talentoso e com ótimas obras poderia ser visto como um incompetente e improdutivo se não se expressar tão bem com textos.
Acho que o que estamos pedindo nãoé muito (pois não sou só eu que penso assim, mas um número enorme de artistas nas escolas de nível superior).
Somente que RECONHEÇAM O PRODUTO DE NOSSA CRIAÇÃO COMO UMA PRODUÇÃO INTELECTUAL COMO AS DEMAIS e que não sejamos mais EXCLUIDOS dos programas de fomento à pesquisa simplesmente POR FAZER OBRAS DE ARTE. Se estamos dentro das universidades NOSSA CRIAÇÃO deve ser considerada COMO UMA PESQUISA.
Nós ARTISTAS CRIADORES queremos ser tradados mais dignamente por nossos pares.
Por isso DECLARO MEU VOTO PARA ASSESSORES NO CNPq na área de Artes, Ciência da Informação e Comunicação [sigla AC] como sendo:
MAURICIO LOUREIRO (UFMG)
SAMUEL ARAUJO (UFRJ)
SILVIO FERRAZ DE MELLO FILHO (PUCSP)
Apesar de não estarem na LISTA que nos foi comunicada defendo esses pesquisadores como tendo equivalência mais do que suficiente com qualquer P1; Segundo os procedimentos para indicação de assessores do cnpq/2001, eles são membros representativos da comunidade científico-tecnológica nacional e são aptos não apenas a emitir opinião sobre o desenvolvimento de sua especialidade, mas também de suas possíveis interfaces com outras.
Posso garantir que esses representantes não serão considerados - e não atuarão - como representantes de suas instituições ou de suas regiões geográficas no CNPq.
Conforme as Normas para indicação, se não são bolsistas de produtividade em pesquisa da categoria I do CNPq, são pesquisadores de qualificação equivalente.
Conforme as Normas do Comitê de Assessoramento e Normas de Funcionamento, mais especificamente o Art.2º - esses indicados tem competência para participar do processo de avaliação, acompanhamento, planejamento e análise das perspectivas das áreas do conhecimento e das ações programáticas; bem como contribuir para a formulação de programas e planos de desenvolvimento científico e tecnológico; além de estofo suficiente para recomendar à Diretoria Executiva (DEx) ações de fomento em sua área , por meio do Comitê Multidisciplinar de Articulação (CMA); Os indicados tem competência suficiente para tratar desses assuntos que hoje preocupam a maioria da classe de artistas criadores nas universidades.
Senhoras, Senhores, Colegas,
Espero que no final dos próximos dois anos possamos ter orgulho das decisões que tomamos agora.
José Augusto Mannis